Entrevista com Tecidista – Camila Saitu

Qual seu nome? Camila Saitu

E sua idade? 35 anos

Em qual cidade você mora? Rio de Janeiro/RJ

Aonde você treina/dá aulas? Já treinei em muitos lugares, pois gosto de conhecer os espaços, as pessoas e metodologias. Atualmente voltei para onde tudo começou, Circus Fit. Sou uma entusiasta e eterna aluna de aéreos. Muitas pessoas já me pediram por aulas, quem sabe um dia rs.

1 – Com quantos anos você começou a praticar aéreos e o que te levou a buscar essa modalidade?

Comecei aos 30 anos com uma aposta que fiz com meu marido. Sempre fui uma pessoa ativa, mas devido a rotina não estava conseguindo conciliar e as atividades que eu estava me propondo a fazer eu não estava gostando. Meu marido é fotografo e o seu antigo estúdio ficava em um espaço de coworking com uma escola de Pole e Aéreos.  Sempre que eu ia visitá-lo, tinha umas fotos dos seus sócios no corredor de algumas apresentações que tinham registrados dessa escola, Circus Fit. Achava lindo, mas pela idade e outras coisas, achava que era impossível tal atividade para mim.  Até que num dia, conversando, surgiu o seguinte diálogo: “Você precisa encontrar alguma atividade física que realmente você se conecte, porém, para isso, é preciso que você não desista tão facilmente então, vou te propor o seguinte: Se matricule na aula de tecido acrobático por 3 meses. Mas durante esses meses você não pode deixar de ir um dia, apenas em casos de doença e imprevistos do trabalho, mesmo que esteja sendo difícil. Se você ganhar, eu deixo você me ensinar a andar de bicicleta… se você desistir antes do prazo, você vai ter que acordar mais cedo e sair para correr comigo.” Topei o desafio na hora e me matriculei. As primeiras semanas eu não gostava, achava difícil, saia com hematomas e dores. Mas, com o passar do tempo aquilo foi se tornando mais do que uma atividade física e os três meses se tornaram 6 anos mesmo com algumas pausas no meio do caminho.

2 – O que a prática dos aéreos significa para você?

Apesar de não ser terapia, para mim, é terapêutico e acabou sendo minha válvula de escape dos estresses diários e da minha ansiedade e depressão. Os aéreos são um dos meus maiores aliados quando se trata de sanidade mental, além da medicação e terapia.

Quando iniciei, estava prestes a ter uma nova crise intensa de ansiedade, por isso, meu marido insistiu tanto para que eu tentasse o universo das acrobacias áreas por ser algo lúdico e um lugar onde eu pudesse explorar minha criatividade e colocar para fora meus sentimentos através do que chamo hoje de dança área.  

E, apesar de idas e vindas e uma pandemia no meio, é esse lugar que eu busco como abrigo exclusivo meu.

Seja no tecido acrobático, no tecido gota, na faixa acrobática e até mesmo na lira e o trapézio, eu sinto algo libertador, único e mágico. É como se eu estivesse saindo da vida real e entrando no meu fantástico e exclusivo mundo onde nada pode me atingir e eu me sinto poderosa, livre, respiro e exalo arte e consigo extravasar tudo que está dentro de mim. É libertador e único o que sinto quando estou voando e criando nos meus equipamentos.

3 – Qual foi seu maior desafio no início?

Foi começar rs. Eu tinha na minha cabeça que era algo impossível para alguém da minha idade, envergonhada, sedentária e que não tinha flexibilidade (não tenho até hoje rs), nem força e muito menos consciência corporal.

Com o tempo, fui vendo que tudo se adquire. É questão de prática e não deixar se sabotar com os nossos pensamentos intrusivos e julgamentos externos.

Algumas coisas são mais difíceis para mim, como a flexibilidade, mas ela não é impeditiva para você alçar voos altos.

A acrobacia área é para todos os gostos, sexo, idade, corpos. Basta você se permitir!

4 – Como é conciliar sua carreira + vida pessoal com sua prática? Quais escolhas ou sacrifícios você já teve que fazer?

Minha profissão não tem nada haver com acrobacias aéreas ou arte e coisas lúdicas rs. Sou da área de saúde, ciência. Mas, posso dizer que, de certa forma, tudo se complementa.  Minha vida profissional e a acrobacia aérea. Tudo exige foco, calmaria, pensar fora da caixa, pensar estrategicamente em cada passo e movimento, público.

5 – Você passou por uma lesão recentemente. Conta pra gente como foi?

No final do mês de agosto do ano passado, tive uma ruptura parcial do supraespinhal, um dos tendões do manguito rotator que fica localizado no ombro, além de uma bursite.  Descobri isso apenas um mês depois do ocorrido através de uma Ressonância Magnética.

Lembro exatamente quando foi que isso aconteceu, e não foi na acrobacia aérea, foi em outra atividade física que eu fazia na época.

Nos dias seguintes ao ocorrido, eu sentia dores agudas, mas achava que era apenas uma tendinite ou dores de treino, já que eu estava treinando todos os dias. Fui a um médico e tomei analgésicos, anti-inflamatórios, relaxante muscular e fiz compressas de gelo e água morna e reduzi o ritmo das atividades físicas.

Porém as dores foram aumentando, mesmo medicada. Passei a sentir muita dor dormindo, dores que acabavam me acordando, até que chegou um ponto que eu mal conseguia levantar o braço e o padrão da dor tinha mudado. Nesse momento decidi procurar ajuda de um especialista em ombro. E foi a partir daí que tive o diagnostico correto e precisei parar todas as minhas atividades físicas para realizar um tratamento que envolveu sessões de fisioterapia, exercícios de fortalecimento, medicações etc. Tudo para fugir de uma cirurgia.

Para mim, foi um baque forte. Não só pela possibilidade de eu ter que fazer uma cirurgia se nada desse certo, mas o fato que eu não podia praticar minhas atividades físicas por um tempo e que a acrobacia área seria a última que eu poderia retornar.

Meu psicológico foi afetado com isso. Me vi em alguns micros episódios de ansiedade pela ausência de atividade física. Precisei entrar em medicação e vi ao longo das semanas a dosagem do ansiolítico só aumentar, pois a dose alvo não estava sendo suficiente. Escutava meu psiquiatra sinalizar que eu precisava focar na recuperação do meu ombro para eu restabelecer meu equilíbrio de novo.

Me agarrava nos exercícios da fisioterapia, mas não era a mesma coisa. Tentei focar em outras coisas, arrumar outros hobbies e até me afastei das redes sociais.

Após uns meses, pude começar a retornar as minhas atividades físicas.

Tive que entrar na musculação para fortalecer e retornei recentemente para o tecido acrobático com algumas limitações. E, com o retorno, a medicação começou a ser diminuída.

6 – E como está sendo esse período de retorno e recuperação?

Lento e com muitos medos, mas estou gostando do processo de reaprender as coisas. Sinto que tudo está sendo mais consciente, no tempo do meu corpo.  Ainda sinto um pouco de dor, mas faz parte, nada impeditivo. Executo os movimentos conforme é possível e tenho explorado mais ainda as possibilidades de outras partes do meu corpo, principalmente no tecido/faixa gota.

Procuro não ficar me comparando com a Camila de antes da lesão com a atual e tô focada em recomeçar. E, pensando nisso, decidi retornar ao local de onde tudo começou.

Por conta disso, muitas pessoas me perguntam se não sinto falta de alturas maiores etc.

O que posso dizer é que em 6 anos, tive a oportunidade de alçar voos muito altos, de fazer apresentações em lonas circenses, de fazer quedas radicais, de me apresentar em lugares que jamais imaginei. E nesses anos, nem tudo foram flores e glow. Também tiveram momentos que eu pensei em desistir de vez dos aéreos, por conta de locais, profissionais e pessoas. Ou seja, nem toda parada é referente a lesões físicas.

 Hoje eu só procuro por acolhimento, gentileza, respeito ao meu corpo e recomeços no modo que escolhi voar.

7 – Que conselho você daria para alguém que está parado por uma lesão ou por um momento difícil da vida?

Tenha paciência e acredite no processo. Pode demorar, pode ser lento, mas no final dar certo.

E não deixe se abalar pensando no passado e o comparando com o presente e nem com o que as pessoas falam. Só você mesma sabe e conhece sua jornada e o momento que você está passando. Foca na sua recuperação, se cerque por energias positivas e deixa as coisas fluírem que vai dar certo.

8 – Algo mais que gostaria de acrescentar?

Só queria agradecer a todos dessa comunidade de aéreos que me mandaram muitas energias positivas, entenderam minha pausa e que ficaram muito felizes com o meu retorno. O circo é sobre isso, tem que ser sobre isso: união, compreensão, resiliência, suporte e vibrações positivas.

PARA ACOMPANHAR OS VOOS DA CAMILA, SIGA NO INSTAGRAM @CAMILA.SAITU

Respostas de 2

  1. Ah gente! Relendo aqui o que escrevi eu vejo o quanto essa jornada de voos, apesar de ser uma caixinha de surpresas, é surpreendente e linda de viver. Obrigada Mari e Jorge pela oportunidade de compartilhar um pouquinho da minha história ainda mais nesse momento.

  2. Q bacana Camila, estou passando pelo mesmo, outubro do ano passado comecei com dor no ombro que só piorava, depois deste período fiquei sem conseguir erguer o braço direito, exames revelaram bursite e tendinite, estou fazendo fisioterapia, ganhei amplitude de movimento e tenho desanimado pois fisioterapeuta tem tentado ultrapassar este limite, a dor assusta e desanima a gente, sua entrevista serve de incentivo para quem tem lutado por progresso. Um passo de cada vez que a gente chega lá!🙏❤️

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